quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Moça






Tá faltando amor próprio moça, 
tá faltando se olhar no espelho e amar desesperadamente o que ele reflete. 
Tá faltando abraçar os defeitos, ter orgulho das qualidades e toda essa conversa de amor próprio que você vê espalhada na internet.
Tá faltando se amar. 
Tá faltando acreditar nos elogios. Logo você, que espera tanto por eles, não acredita em nenhum quando ouve.
Tá faltando enfeitar o rosto com esse sorriso maravilhoso que você tem.
Tenho sentido falta de ouvir o som gostoso que sua risada canta.
Tá faltando levantar da cama acreditando no melhor.
Tá faltando tanta coisa que tu anda cheia de vazio. E nem é o vazio gostoso que a fome dá e deixa qualquer comida gostosa.
Tô sentindo falta das suas conversas longas, dos seus assuntos intermináveis, todo esse seu silêncio moça, não me parece bom sinal.
Conte me o que te aflige, me deixe te pegar no colo, ser tua companhia, esquentar teu pé nos dias frios.
Me deixe preparar teu chá.
Eu não posso ser amor se você não consegue se amar, mas posso te ajudar a ver que você tá errada moça. Você é linda! Cada sorriso seu me deixa feliz por uma semana, se você soubesse, se sentisse como eu sinto.
Tá faltando saber ser você, cadê seu manual? Quero decorar cada linha dele e ainda assim sei que você irá me surpreender.
Vem cá moça, deixa eu te dizer, não há coisa melhor no mundo do que amar você.
Experimenta aí.









Eu sou adepta de chás,
sou ansiosa demais para cafés.











sexta-feira, 29 de julho de 2016

Ainda são seis da manhã

Acordei. Está frio, se eu não estiver errada devem estar uns 20 graus lá fora, mas o apartamento é sempre um ou dois graus mais frio.
Acordei e a primeira coisa que fiz foi ver coisas que gostaria de não ter visto, a gente nunca sabe o que nos espera ao abrir os olhos.
Levantei e tomei um banho frio, gelou até minha alma, adormeceu a minha dor, ao menos por enquanto.
Nem eu, que acho que o pessimismo é uma qualidade, estava preparada para o que aconteceu, na verdade estar preparado é uma ilusão que a vida te dá, você não está no controle, eu também não, e quando mais a gente tenta controlar, mais iludidos estamos.
As rédeas da vida não são nossas.
A gente escolhe como reagir ao que a vida nos traz, não escolhemos o que a vida nos traz.
Ou escolhemos?




Eu vou só tomar um chá quente e aquecer a minha dor e esperar que o dia traga pra mim as coisas que ele planejou.




sábado, 21 de novembro de 2015

Coração

E esses amores que chegam sem avisar e vão embora sem de despedir?
Frutos de um coração aflito que na ânsia por se apaixonar devora sentimentos tão rápido que parece criança quando a mãe compra um doce, come tudo de uma vez e depois reclama que não tem mais nada legal pra comer.
Coração esse que parece geladeira no começo do mês sempre que descobre um novo par de olhos para admirar,  mas quem não consegue manter a geladeira cheia o mês inteiro saberá então gerenciar um coração?
Ansioso, sedento, birrento, quer pra ontem o que poderia ter pra vida inteira, não aguenta esperar, esperneia, chora, faz escândalo e por conta disso coleciona uma agenda cheia de nomes, números e nenhum sentimento.
Devorador, apressado, impulsivo, não fosse um coração poderia facilmente ser um monstro desses que vivem embaixo da cama de criancinhas.
Coração que a cada sorriso seu acha ter encontrado a cura, vê em você toda a calmaria que gostaria de ser.
Se fosse um carro seria dirigido por algum embriagado na madrugada desses que dirigem cheios de confiança, mas eu, você e o resto do mundo sabemos que bêbados não são bons motoristas, dão sorte as vezes, mas com a sorte meu bem, não podemos contar.
Não foi sempre assim.
Antes de toda essa ansiedade viveu-se uma vida inteira de amores platônicos, com sonhos regados a chocolates e rosas vermelhas, que nunca chegaram.
Viveu-se uma vida inteira de não conseguir sequer cruzar olhares, sorrisos então? Santa mãe de Deus, é preciso mais que coragem pra demonstrar o quanto se quer alguém.
Viveu-se uma vida inteira de imaginar metades das laranjas, mesmo livros, mesmos objetivos de vida, mesmo esquisitices, mas amor platônico não enche coração e coração não foi feito pra ficar vazio CORAÇÃO FOI FEITO PARA TRANSBORDAR, amores platônicos não fazem a vida valer a pena, fazem perder o ar, a espontaneidade, todas as palavras aprendidas desde criancinha quando se tem uma conversa com o outro, mas fazer a vida valer a pena quando se trata de amor tem que ser a dois, me desculpem os modernos, amantes de superficialidade que é cair de boca em boca, de festa em festa, de cama em cama, desejo por desejo apenas pode até ser bom, pra mim se for a dois tem que ter sim o coração ali, transbordando sentimento. E é bem por isso que esse coração trocou os amores platônicos por toda essa ansiedade e um a um espanta todos aqueles que sabem mesmo que o bom é a calmaria e ansioso por encontrar essa calmaria acaba sempre só, batendo sozinho, uma dupla de um, tocando melodias tristes em dias de chuva.
Mas, a vida é isso mesmo, ir vivendo pra ver onde isso tudo chega e não importa quantos corações apareçam no percurso, há sempre a esperança que o próximo vai ser aquele que será o responsável pelo seu último primeiro beijo, mas por hoje eu vou esperar, porque na verdade essa busca me deixa exausta.







Antes um coração que transborda que um coração que não se abre, ninguém deveria ter que convencer ninguém que amar vale a pena (ou se apaixonar ao menos um pouquinho).


NP - Rude (feat Flula) por Madilyn Bailey


sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Sexta

Sexta feira lá é dia de sentir saudade?
Sentir o peito apertar, sentir o ar pesar.
Sexta feira lá é dia de sentir?

Fosse como sábado, onde tudo pode acontecer.
Fosse como domingo, onde tudo se lembra (ou se tenta lembrar).
Fosse como segunda, onde é inevitável recomeçar.
Fosse como terça, dia de acordar sem medo do que vem pela frente.
Fosse como quarta, onde as chances de tudo dar certo caem pela metade.
Fosse como quinta, quando o corpo já anseia pelo dia seguinte,
mas é sexta.


Todo dia é dia.
Saudade não tem hora, mas tem sempre companhia.



Cause I'm just holding on for tonigh, Sia - Chandelier

sábado, 3 de outubro de 2015

Sábado

Hoje é dia de faxina, Helena.


Acordou,
tomou um banho frio,
passou o café e separou o seu melhor, não que não tenha separado das outras vezes,
mas hoje queria só o melhor, porque o pior todos já tinham mapeado, sabiam de cor.
Abriu as janelas na esperança de que  ar novo expulsaria a ansiedade suspensa, quase tangível que pesava o ar, até as paredes do apartamento pareciam prender a respiração.
Tirou o pó, limpou a casa, lavou a roupa, deixou o banheiro de molho.
Queria acreditar que cada cômodo precisava de faxina e não ela.
Cada gota de água derramada durante o processo era convertida em agonia, e de gota em gota ela transbordou.
Deixou a cozinha por último.
Cozinhar é transformar todo o sentimento em sabor, é possível cozinhar pra quem não se ama, mas não é possível cozinhar sem amor.
O cheiro de alho até tentou tomar conta do lugar, mas a atmosfera era pesada demais e ele só saiu pela janela, hoje não era seu dia.
Cozinhar apenas para si é como guardar um sentimento no peito, faz sentido, mas é sempre melhor quando se compartilha.
Todas aquelas semanas aprendendo a meditar e mesmo assim não consegue calar a mente, tentou dormir depois do almoço, não conseguiu.
O calor da tarde invadia tudo.
Eram quase três da tarde, havia uma lista de afazeres não domésticos não feitos, mas não havia nada também na agenda do domingo.
Tomou outro banho frio, tomaria trinta deles, se soubesse que esse sentimento impregnado seria diluído, mas afinal, esse sentimento era hidrofóbico, insolúvel em água.
Já passavam das cinco da tarde, pegou um livro e esperou a noite chegar,
o dia seguinte seria domingo, até esse sentimento sentiria preguiça de acordar, mas se acordasse tomaria então uma decisão.
Não podia deixar o apartamento com esse ar pesado, estava quase irrespirável lá dentro.


"Mas se você pensa que o mundo é um mapa
E que é fácil se achar sem se perder
Vai ter de aprender a aprender a viver.
Ninguém mata a sede bebendo mágoa".
Dinda, um túnel no fim da luz.







quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Inacabado



Deve ser fome e se não for eu faço virar, todo vazio é fome.
Não de comida, não todas as vezes pelo menos.
É fome de vida, de viver, de ser o que se deveria ser.

Deve ser fome, fome de sentimento que nunca sacia.
Nunca passa.



Não sei descrever o quão estranho é algo que te moía por dentro não fazer mais nem cócegas.
Acostumada que estava com coisas passageiras que pareciam durar toda a eternidade.
Acostumada com rédeas que sempre saiam do controle.
Acostumada em deixar as rédeas saírem do controle.
Não sei como adquiri o hábito de transformar grãos de areia em saaras,
meios copos de água em tempestades destruidoras, irreparáveis.


Negar escrever é sufocar um grito da alma.




sábado, 8 de agosto de 2015

Banho


Acordei com a cabeça pesada, me peguei pensando se era sangue mesmo que corria nas minhas veias ou o que sobrou dos destilados de ontem.
Resolvi, antes de mais nada, tomar um banho.
Entrei embaixo do chuveiro quente, pelando, como diria minha mãe e fiquei lá,
cinco, dez, quinze, vinte minutos, sem vontade nenhuma de sair dali e encarar a vida lá fora.
Fechei os olhos.
As vezes acho que se a gente ficasse tempo suficiente no banho todos os problemas do mundo se resolveriam,  porque banho é pra isso, resolver os problemas.
Tenho a impressão que se a gente ficasse tempo suficiente no banho até os amores passados escorreriam pelo ralo.
Até você escorreria pelo ralo.
A gente costuma tomar decisões drásticas demais durante o banho.
Fiquei lá até minha pele enrugar,  até meu corpo pedir arrego da água quente demais.
Pra falar a verdade, acho que a vida adulta começa na primeira vez que você toma banho e passa mais tempo pensando  na vida do que com o sabonete na mão.
Teve um tempo que eu nunca entendia porque as pessoas se demoravam no banho,
ou pensavam no banho, a função do banho era deixar você limpo.
Só agora eu entendi o quão limpo você pode sair de lá.
Por falar em sair,
fiquei tanto tempo que se fosse possível a água teria transbordado, e ao invés de escorrer pro ralo, meus pensamentos invadiriam tudo, junto com a água.