sábado, 8 de agosto de 2015

Banho


Acordei com a cabeça pesada, me peguei pensando se era sangue mesmo que corria nas minhas veias ou o que sobrou dos destilados de ontem.
Resolvi, antes de mais nada, tomar um banho.
Entrei embaixo do chuveiro quente, pelando, como diria minha mãe e fiquei lá,
cinco, dez, quinze, vinte minutos, sem vontade nenhuma de sair dali e encarar a vida lá fora.
Fechei os olhos.
As vezes acho que se a gente ficasse tempo suficiente no banho todos os problemas do mundo se resolveriam,  porque banho é pra isso, resolver os problemas.
Tenho a impressão que se a gente ficasse tempo suficiente no banho até os amores passados escorreriam pelo ralo.
Até você escorreria pelo ralo.
A gente costuma tomar decisões drásticas demais durante o banho.
Fiquei lá até minha pele enrugar,  até meu corpo pedir arrego da água quente demais.
Pra falar a verdade, acho que a vida adulta começa na primeira vez que você toma banho e passa mais tempo pensando  na vida do que com o sabonete na mão.
Teve um tempo que eu nunca entendia porque as pessoas se demoravam no banho,
ou pensavam no banho, a função do banho era deixar você limpo.
Só agora eu entendi o quão limpo você pode sair de lá.
Por falar em sair,
fiquei tanto tempo que se fosse possível a água teria transbordado, e ao invés de escorrer pro ralo, meus pensamentos invadiriam tudo, junto com a água.