sábado, 3 de outubro de 2015

Sábado

Hoje é dia de faxina, Helena.


Acordou,
tomou um banho frio,
passou o café e separou o seu melhor, não que não tenha separado das outras vezes,
mas hoje queria só o melhor, porque o pior todos já tinham mapeado, sabiam de cor.
Abriu as janelas na esperança de que  ar novo expulsaria a ansiedade suspensa, quase tangível que pesava o ar, até as paredes do apartamento pareciam prender a respiração.
Tirou o pó, limpou a casa, lavou a roupa, deixou o banheiro de molho.
Queria acreditar que cada cômodo precisava de faxina e não ela.
Cada gota de água derramada durante o processo era convertida em agonia, e de gota em gota ela transbordou.
Deixou a cozinha por último.
Cozinhar é transformar todo o sentimento em sabor, é possível cozinhar pra quem não se ama, mas não é possível cozinhar sem amor.
O cheiro de alho até tentou tomar conta do lugar, mas a atmosfera era pesada demais e ele só saiu pela janela, hoje não era seu dia.
Cozinhar apenas para si é como guardar um sentimento no peito, faz sentido, mas é sempre melhor quando se compartilha.
Todas aquelas semanas aprendendo a meditar e mesmo assim não consegue calar a mente, tentou dormir depois do almoço, não conseguiu.
O calor da tarde invadia tudo.
Eram quase três da tarde, havia uma lista de afazeres não domésticos não feitos, mas não havia nada também na agenda do domingo.
Tomou outro banho frio, tomaria trinta deles, se soubesse que esse sentimento impregnado seria diluído, mas afinal, esse sentimento era hidrofóbico, insolúvel em água.
Já passavam das cinco da tarde, pegou um livro e esperou a noite chegar,
o dia seguinte seria domingo, até esse sentimento sentiria preguiça de acordar, mas se acordasse tomaria então uma decisão.
Não podia deixar o apartamento com esse ar pesado, estava quase irrespirável lá dentro.


"Mas se você pensa que o mundo é um mapa
E que é fácil se achar sem se perder
Vai ter de aprender a aprender a viver.
Ninguém mata a sede bebendo mágoa".
Dinda, um túnel no fim da luz.







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