sábado, 5 de abril de 2014

Ressaca

Helena 

A roupa de ontem está aos pés da cama.
O cabelo inclusive ainda é o de ontem, mas sem o glamour, só o embaraço.
Tem umas dez horas que tudo que ela sente é o toque do lençol sob a pele.
O corpo está mole, fadigado, os olhos pesados e o estômago virado.
Do lado da pilha de roupas há uma garrafa de água e o clima é aquele de domingo.
Nada acontece, nem o vento sopra, só um calor insuportável.
Decidiu que precisava tomar um banho gelado, pra ver se a vida muda de cor e o clima muda o jeito como toca sua pele.
Olha pro celular, ele não ligou, nem mandou mensagem, faz dias já, nem era importante, mas era algo.
Era.
Faltam 40 minutos, esqueceu que tinha compromisso.
Quem marca compromisso em um dia assim?
Que agonia!
São quatro da tarde e ela ainda não levantou da cama, as lembranças de ontem vão e voltam, os sentimentos dançam em um ritmo desconexo.
São 4 da tarde e a cama se molda ao momento de tal maneira que fica impossível levantar, o apartamento cheira a solidão, até os moveis estão com preguiça.
A água fria do chuveiro causa a mesma ansiedade que ela sente diante do novo, ela fecha os olhos e sente o frio se espalhar pelo corpo, incomoda e ao mesmo tempo faz bem, parece até imitação do dia de ontem.
Ela não bebeu.
Ela não fumou.
Ela não dormiu tarde.
É ressaca, mas não de excesso.
É ressaca de falta.

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